sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Benin: em Ouidah, o Deus do vodu e o Deus dos cristãos em boa vizinhança

"Não existe mais de um Deus, o Deus que está aqui também é o de lá", comenta o velho diante de um templo vodu e apontando para a basílica mais à frente: em Ouidah, uma cidade litorânea de Benin, "espíritos" e a fé católica convivem como bons vizinhos, o que não impede algumas tensões.
"É o mesmo Deus", insiste Agbotabatoh Dah Deh, antes da visita do Papa Bento XVI a Benin a partir desta sexta-feira, numa viagem que prosseguirá até domingo. "Estamos prontos para receber o Papa", afirma à AFP, solene.
Túnica surrada e bengala na mão, ele faz parte da família que cuida do templo vodu do píton. Em frente, a basílica passa por obras de reforma: os operários dão as últimas pinceladas antes da chegada do Papa, sábado, à cidade de Ouidah. Ele vai assinar, aí, a exortação apostólica saída do Sínodo sobre a África de 2009, antes de concluir, domingo, na capital, Cotonou, sua visita de três dias. Agbotabatoh fala, também, com gravidade, dos sacrifícios - boi, galinha - feitos junto a uma velha árvore próxima em honra de "ma wu", Deus supremo vodu e de outras divindades.
O velho fica como se fosse na própria casa, na "câmara" de serpentes "sagradas" onde vivem 30 pítons, com pelo menos um metro, cada. "Não existe nada sem Deus", afirma ele, acariciando um dos répteis em seus ombros. De um total de 9 milhões de habitantes em Benin, os animistas são considerados mais numerosos, à frente dos católicos. No pátio de uma linda casa, junto a uma estrada de terra, o pequeno amontoado de ferragens, a alguns passos de um mausoléu decorado com cruzes cristãs, representa "Ogoun": deus do ferro, ele "protege dos perigos", explica o mestre vodu, Magloire Fadjikpé.
Quando este velho militar precisa pegar a estrada, ele joga água ou óleo no fetiche, para ganhar os favores da divindade. Mas ele próprio reza pela manhã e à noite, recitando orações católicas e não perde a missa, aos domingos. "Confundimos" vodu e catolicismo, explica ele. "Adoramos o mesmo Deus".
"Os padres nos dizem sempre que não podemos fazer as duas coisas ao mesmo tempo", lamenta, no entanto. "Eles esquecem que nós adorávamos o vodu antes da chegada dos missionários", há exatamente 150 anos.
Nos Dez Mandamentos lemos que "adorarás o Senhor teu Deus e a ele só", comenta Séverin Adantonon, um homem sorridente, de 50 anos, encarregado, em Ouidah, da Renovação Carismática. Esta corrente católica militante não acredita no sincretismo amplamente propagado. "Cada um deve guardar sua identidade", afirma. Assume sem complexos o fato de ter querido levar adeptos do vodu a frequentarem apenas a igreja de "Jesus". "Mas é muito difícil: essa opção quer dizer não aos pais" que iniciaram os filhos na religião tradicional, admite.
A Renovação Carismática organiza "preces de libertação", espécies de exorcismo, comenta Séverin, evocando "problemas" ligados ao culto dos fetiches: crianças são privadas de educação e confinadas em "conventos de fetiches" (locais secretos de iniciação), onde as tatuagens vodus feitas sem cuidados maiores podem favorecer a transmissão do vírus da Aids. Mas "a hostilidade não falta" em relação aos evangelizadores, conta ele: "dizem-nos que a fé católica é uma religião importada". Expoente da sociedade civil local, e ex-ministro, Roger Gbégnonvi destaca que, apesar de tudo, a coexistência é "pacífica" na cidade, também conhecida por ter sido ponto de partida do tráfico de escravos para o Novo Mundo. "Eu fui criado no catolicismo desde o ventre de minha mãe", confia o ex-seminarista que não tem qualquer ligação com o vodu: "para 99% dos habitantes, pareço um pouco estranho!"

Notícias Cristãs com informações da AFP

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